Dados e fontes digitais

Dados abertos e documentos digitalizados têm revolucionado a pesquisa histórica nos últimos anos. Um exemplo já bem conhecido é a Hemeroteca Digital, um inestimável serviço da Biblioteca Nacional que traz o acervo digitalizado de jornais essenciais para o estudo dos eventos políticos, sociais e econômicos da história brasileira, como o Correio Paulistano e o Jornal do Commercio.

Há várias outras iniciativas que são igualmente importantes. Na coluna ao lado deste site, há duas listas com links relacionados a dados e documentos digitalizados que tenho encontrado ou conhecido por sugestão de colegas e que são um grande auxílio à pesquisa em diferentes áreas (ver os links sob os títulos “Dados” e “Fontes Digitais”). As fontes digitalizadas incluem, além da citada Hemeroteca da BN, vários recursos que eram o sonho dos pesquisadores, como por exemplo os Anais da Câmara dos Deputados e do Senado (Império e República), por onde passaram todos os debates, políticas e legislações do Brasil desde 1826 e que precisam ser consultados em qualquer tentativa de ir além de generalizações. Da mesma forma, as Instruções e Circulares da Sumoc, no site do Banco Central, são uma fonte básica para reconstituir a complicada história da principal política econômica (a cambial) no Brasil entre 1945 e 1965. Ou ainda a coleção completa da revista Conjuntura Econômica da FGV, uma publicação mensal importante para acompanhar a política econômica brasileira especialmente entre 1947 até a década de 1980. Há ainda preciosidades como as bibliotecas digitais de “Obras Raras” do Senado, da Câmara e do STF, bem como a Coleção Brasiliana da antiga Companhia Editora Nacional, digitalizada pela UFRJ. Essas coleções reúnem livros de autores contemporâneos que continuam necessários para o estudo de temas politicos, econômicos e sociais da colônia, do século XIX e da primeira metade do século XX no Brasil. Em vários casos, essas obras se situam entre as principais referências para a história política e econômica desses períodos, como por exemplo João de Azevedo Carneiro Maia, O Municipio. Estudos sobre Administração Local (1883); Augusto Olympio Viveiros de Castro, Tratado dos Impostos. Estudo Theorico e Pratico (1910) e João Pandiá Calógeras, A Política Monetária do Brasil (1910). A sua digitalização e acesso público ajudam a reduzir a tendência da historiografia recente de negligenciar obras fundamentais pela sua idade.

No caso da lista de links em “Dados”, há desde recursos com infomações sobre personagens, fatos, eventos e conceitos até dados primários coletados por pesquisadores e que foram generosamente abertos para utilização ampla. Um exemplo do primeiro tipo é o Dicionário da Administração Pública Brasileira, organizado pelo Arquivo Nacional, com verbetes sobre cargos, entidades e órgãos públicos dos períodos colonial, imperial e republicano (este ainda incompleto). Os Dicionários dão um bom auxílio para quem está estudando, por exemplo, políticas públicas dessas épocas. Outro recurso é a “Bibliography of Slavery and World Slavery” da Universidade de Virgínia, um banco de dados com referências bibliográficas sobre a escravidão antiga e moderna, com vários critérios de busca e que é valioso para quem precisa conhecer a enorme produção acadêmica sobre o tema. Na lista há ainda dados coletados pelo esforço individual de pesquisadores. O melhor exemplo é a base de inventários post-mortem (“Maranhão Inventories Slave Database“) compilados por Walter Hawthorne no Arquivo Judiciário do Maranhão, contendo informações sobre 8.500 escravos entre 1767 e 1831. A base está disponível para download no “Slave Biographies: The Atlantic Database Network ” (“an open access data repository of information on the identities of enslaved people in the Atlantic World.”). Este é um exemplo que, se seguido por outros, seria de incalculável valia para o conhecimento da história brasileira. Inúmeras pesquisas continuam sendo feitas, coletando dados valiosos que poderiam ser utilizados por muitos interessados, mas que até agora têm sido mantidos privados, usados individualmente e depois perdidos.

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