Graciliano Ramos em 1931, ainda residindo em Maceió, em um texto curto falando sobre moradores das cidades pequenas e sertanejos (e sobre o que muita gente não entendeu até hoje):
“Aparecem entre eles alguns doutores que defendem a liberdade, outros atacam o vigário. E há o rábula, o farmacêutico, o tabelião, o caixeiro que estuda gramática, o redator da folha semanal.
“As pessoas notáveis do lugar são comerciantes que passam metade dos dias encostados à carteira, cochilando, e a outra metade debaixo das árvores do largo da feira, tesourando a vida alheia, tecendo mexericos. O assunto preferido é a política. Escangalham o prefeito e o delegado de polícia, vão subindo e, com ligeiras paradas nas secretarias e no gabinete do governador, acabam desmantelando o ministério e o presidente da República.
“Falam demais, não ganham quase nada e começam a sentir necessidades exorbitantes. Têm rodovias, estradas de ferro, luz elétrica, cinema, praças com jardins, filarmônicas, máquinas de escrever e pianos. Só faltam escolas e hospitais. Por isso os sertanejos andam carregados de muita verminose e muita ignorância.”
Graciliano Ramos, “Sertanejos” (1931), em Cangaços, Rio de Janeiro, Record, 2014.
que bela (e ao mesmo tempo triste) passagem, Renato!