Robert Fogel nos deixou há poucos dias atrás. O autor de Railroads and American Economic Growth, Time on the Cross (com Stanley Engerman), Without Consent or Contract, The Escape from Hunger and Premature Death e mais de uma dezena de outros livros é um exemplo daquele tipo especial que parece ter vindo ao mundo para questionar ideias estabelecidas e arriscar novas formas de ver problemas antigos, no caso, na área da história. Ele foi um pioneiro na tentativa de mostrar que técnicas quantitativas podem ser úteis para revelar aspectos ou dimensões da história das sociedades que passam despercebidos em outros modos de investigar e narrar os fatos históricos. Para isso, enfrentou ceticismo e preconceito, ainda comuns hoje em várias partes da academia, como (enormemente) no Brasil.
Apesar de tudo, ele obteve suas vitórias, convenceu reticentes e até ganhou o Nobel com Douglass North por suas contribuições inovadoras. Sua perspectiva de estudo da história econômica é hoje, em parte, amplamente aceita em vários lugares. Digo apenas “em parte” porque um dos elementos principais de sua abordagem era uma extensa e cuidadosa reconstituição de fontes e dados primários, algo que o colocou ao lado dos grandes historiadores de sua época. O uso de técnicas quantitativas tem permitido alguma aceitação da importância do estudo da história em disciplinas tradicionalmente refratárias à, como dizem, “contingência histórica” ou ao “empirismo dos historiadores”, como a economia. Mas a disciplinada e sistemática busca de evidências históricas, bem como sua análise cuidadosa e crítica, características dos trabalhos de Fogel e dos bons historiadores, continuam sendo algo escasso tanto nas ciências sociais em geral quanto na economia em particular. O mais comum é tomar emprestado algum “banco de dados” (se possível disponível na web ou da pesquisa de algum historiador generoso), jogar em um modelo, rodar e com os resultados reivindicar algo grandioso, apesar de trivial e frequentemente repetitivo em relação a trabalhos históricos antigos (que, por pressuposto, não são lidos, por serem “antigos” e “históricos”).
Fogel se foi e deixou outro exemplo para historiadores econômicos e cientistas sociais.