É sabido que o estudo da história econômica surgiu em uma época em que a história dos acontecimentos políticos e dos grandes personagens dominava a historiografia. Foi aos poucos, a partir do final do século XIX principalmente, que historiadores de várias partes começaram a retratar aspectos econômicos e sociais sob uma nova perspectiva, distinta das narrativas políticas tradicionais e que se voltava às condições da indústria, da agricultura, do comércio e das populações que deles viviam. Entre os exemplos dessa tendência estão os historiadores dos Annales e outros como Henri Pirenne, Eli Hecksher e Arnold Toynbee.
Podemos ter uma ideia mais precisa, embora indireta, da emergência da história econômica por meio do Google Ngram Viewer, um programa que calcula a frequência com que determinadas palavras ou combinações de palavras apareceram em livros publicados em diversos países e línguas. Ou seja, é uma espécie de análise quantitativa da história cultural, vista pelos livros publicados (o banco de dados é o dos livros compilados no Google Books).
Na figura a seguir (ou clique aqui; é necessário ter uma conta do google aberta, como a do gmail), é possível ver que o termo “economic history” (linha vermelha) começa a aparecer com alguma importância nos livros publicados nos Estados Unidos somente a partir da década de 1880. Por décadas, o crescimento é rápido e praticamente contínuo, rivalizando com outra nova área da historiografia, “social history” (linha azul) – na verdade, muitas vezes aparecendo juntas sob o termo “economic and social history” – e chegando a desafiar a tradicional “political history” (linha verde).
No gráfico, também se percebe que o crescimento da frequência com que “história econômica” aparecia nos livros publicados nos EUA foi interrompido no final da década de 1960. Desde então o declínio tem sido acentuado, alcançando seu ponto mais baixo nos anos recentes da década de 2000. Essa parece ser uma boa descrição da perda de prestígio da história econômica entre os historiadores que tem sido detectada há tempos, como se traduz, por exemplo, pelo baixo número de estudantes e professores interessados na área nos cursos de graduação e pós-graduação. É interessante também notar que essa é uma tendência internacional, apesar das variações entre países (no caso dos livros publicados na Grã-Bretanha, o declínio dos termos “história econômica” inicia-se mais tarde, na década de 1980; no caso dos publicados em espanhol, o declínio é ainda mais tardio: na década de 1990).
Na figura acima é visível que a “história social” diverge da tendência da “história econômica” até a década de 1990, quando também reverte o seu crescimento e inicia uma queda livre. Já a “história política” começa um lento mas persistente declínio desde a década de 1890, o que parece refletir a ascensão das outras áreas da história.
Por fim, o termo “cultural history” (linha amarela) começa uma ascensão impressionante na década de 1920, com novo salto nos anos 1980 e 1990, quando sua frequência ultrapassa tanto “história econômica” quanto “história política”. Esses dados refletem a grande voga da história cultural entre os pesquisadores, ao mesmo tempo que corroboram a percepção de que temas clássicos e importantes da história econômica têm sido hoje relativamente menos estudados do que no passado.
Renato que post bacana!! Abraços
Obrigado, Fabio.
Professor,
Gostei muito do texto. É interesante notar que a história da educação acompanha este movimento.
Abraços!