A estatística é uma das mais poderosas ferramentas para a análise de fenômenos físicos, biológicos e sociais, algo que é reconhecido há muito tempo. Na análise histórica ela é igualmente importante e mesmo necessária, mas nesse caso as resistências à estatística são bem maiores, chegando a criar incompreensão e preconceitos. É surpreendente constatar, por exemplo, que são praticamente inexistentes no Brasil cursos de graduação ou pós-graduação em História que ofereçam algum tipo de formação em análise estatística. Diferentemente do que ocorre em outros países, estudar estatística entre nós continua sendo visto como algo irrelevante, desnecessário ou até inaceitável na grande maioria dos cursos de história. Isso é assim mesmo diante do fato de que os historiadores deparam-se constantemente com situações em que é necessário, por exemplo, avaliar a representatividade de casos analisados, elaborar indicadores sintéticos sobre os dados extraídos de suas fontes e lidar com regularidades e variações nas características de uma população. Em casos como esses, a utilização da estatística é (seria) extremamente útil aos historiadores.
O que tenho percebido ao longo dos anos é que talvez a maior resistência ao uso da estatística deve-se menos à eventual dificuldade de uma disciplina mais formal do que a causas, vamos dizer, de natureza institucional (ou psicológica, como alguns podem preferir). Uma atitude comum é rejeitar a estatística tendo por base pouca ou nenhuma compreensão do que trata a disciplina de fato. É óbvio que a estatística não se aplica a todos os tipos de dados e nem se constitui no único método disponível para análise, mas é muito frequente ouvir pessoas rejeitarem uma análise quantitativa utilizando argumentos desse tipo. Outro fato que contribui para a resistência à estatística é a típica situação de alguém que foi formado em uma certa tradição e que teme o desconhecido. Em vez de estudar 1, 2 ou 3 anos para conhecer algo que não domina, é mais comum e confortável reproduzir institucionalmente posições arraigadas, inclusive entre os alunos, que são sempre uma ameaça potencial às visões estabelecidas.
Talvez a melhor forma de enfrentar essas resistências seja mostrar como a estatística é importante não só para as mais diferentes áreas de pesquisa, mas também para uma opinião mais informada em relação a vários assuntos do dia a dia. Uma impressionante tentativa desse tipo é um programa recente da BBC 4 com Hans Rosling, do Karolinska Institutet da Suécia.
Na página do Open Learn da Open University, é possível assistir partes do programa de Rosling tratando sobre médias e correlações, por exemplo. Além dos vídeos, a página do Open Learn traz a transcrição (em inglês) do programa.
Também no programa da BBC Rosling apresenta o que é uma das mais rápidas e bonitas demonstrações do poder da estatística: 200 países, 200 anos e 4 minutos. Clique aqui. Um vídeo para a primeira aula de um bom curso de história econômica ou desenvolvimento econômico.
Professor Renato, lembrei dessa passagem: “Can historians resolve issues through numerical analysis? I will argue that they can”. Do segundo capítulo do livro A Quantitative Tour of the Social Sciences, do Andrew Gelman. Seria interessante um livro desses para um curso de graduação em história.
Oi Thales,
A indicação é boa, ainda mais por que Gelman diz “issues”, não “the issues” ou “all issues”.
Abs