Sérgio Milliet e o estilo acadêmico

Eu costumo dizer aos meus orientandos que devemos sempre buscar clareza, simplicidade e precisão ao redigir um texto acadêmico, seja em Economia, História ou outra área de Humanas. Expressar premissas, argumentos e resultados da maneira mais clara e precisa possível é essencial em qualquer trabalho acadêmico, inclusive para que ele possa ser devidamente julgado e criticado pelos pares naquilo que é relevante, ou seja, o conteúdo das ideias nele contidas. Obviamente, essa não é uma opinião consensual, pois há ainda uma noção muito forte no Brasil (principalmente na História e em outras ciências humanas) de que o bom texto acadêmico deve ser prolixo, obscuro e impreciso, de preferência com muitos jargões e frases de efeito.

Há muitos anos atrás, Sérgio Milliet tratou indiretamente desse assunto em um prefácio ao livro de Alcântara Machado, Vida e Morte do Bandeirante (1929). Milliet é polêmico e chega a ser duro com o estilo barroco. Comentando o estilo de Alcântara Machado, Milliet diz: “Estilo e linguagem que se podem rotular de clássicos pelo funcionalismo da expressão, pela simplicidade da imagem e o pudor da eloqüência. E pelas mesmas razões anti-românticas, antibarrocas, modernos integralmente. Ao contrário dos que imaginam escrever bem porque imitam a sintaxe quinhentista e enchem sua literatura de arcaísmos, Alcântara Machado despe a dêle de toda indumentária inútil. Sabe ser de seu tempo evitando os ornatos ridículos, indo direito ao que tem a dizer, criando sua maneira pessoal dentro do espírito de sua civilização. Antepõe-se assim como um mestre do método certo aos donos da farmacopéia literária que jogam com receitas por não terem o que dizer.” (p. 16, edição de 1965)

3 comentários em “Sérgio Milliet e o estilo acadêmico

  1. Olá Renato, também li um livro recentemente, “Recordações do Escrivão Isaias Caminha”, do Lima Barreto, o livro é muito bom, uma crítica muito dura a Republica, e ao Rio de Janiero da virada do século XIX pro XX. Fora a crítica pesada à imprensa, à Republica Velha e à sociedade racista, atrasada, e subdesenvlvivida, um dos trechos mais engraçados é uma excelente crítica sobre a questão do Barroco na escrita dos jornais. Vale a pena ser lido.

    1. Oi Zé Paulo,

      Conheço o livro, mas preciso reler. Sobre o mesmo assunto do post e igualmente impagável é o “Homem que Sabia Javanês”, também de Lima Barreto.

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